terça-feira, 29 de abril de 2008

***OBS.:ANTES DE LER ESTE CONTO, QUEIRA LER OS DOIS PRIMEIROS CAPITULOS POSTADOS MAIS EMBAIXO (COMECE PELO FINAL DESTA PAGINA E DEPOIS VENHA SUBINDO PARA PODER LER ESTE CAPITULO)

CAPITULO TERCEIRO:A VOLTA DE CEVILHO SARAIVA DE ARROBA VASTOS APÓS OITO ANOS EM SÃO PAULO.


Os dias deram lugar aos meses, e os meses aos anos. Rosalinda Raskovich, que ao casar tinha o aspecto de ninfetinha, havia aumentado as ancas o volume do seios, e embora conservasse o olhar obliquo, tornou-se mais maliciosa e madura. O marido, é claro, aprovava as mudanças da mulher. A única pertubação que tinha quanto a ela, era o fato de não ter engravidado, mesmo após quasto anos de casamento. As más línguas diziam que a esterilidade ruiva dava-se graças aos chás fornecidos pela mãe que “não queria ter um neto pretinho”.
Um dia, por volta das 2:00 horas da matina, uma barulheira na arinha que ficava na parte da frente do casarão, fez com que todos acordassem. Coronel Vitelo e Muriçoca, surgiram pela porta da frente vestidos apenas em roupas de baixo e com armas em punho. O coronel, que não se surpreendia a anos, chegou a arrepiar o bigode e a derrubar a arma tão grande foi o susto. Olhou para baixo e exclamou com a maior surpresa do mundo: - Cevilho?
A isso, a figura bêbada e sujismunda caida aos pés da escada respondeu:
- Painho, não vai abraçar seu filho?
Rosalinda, depois do marido sair para o trabalhar na roça, ia para o casarão, onde auxiliava sua mãe e as outras que alí trabalhavam, nos afazeres da casa. Porém naquele dia, ao chegar no casarão por volta das 5:00 horas da manhã, se espantou com o movimento no local – um movimento que não era comum nesse horário. Ao encontrar a mãe em meio a criadagem toda alvoroçada, perguntou: - Mãe, o que esta acontecendo?
- O menina Cevilho, chegar ontem.
Ao ouvir isso, Rosalinda perdeu totalmente a compostura. Suas bochechas coravam enquanto sentia aquele friozinha na barriga. Daí, ficou um tempo parada tentando digerir a informação. Faziam 8 anos que ela não o via. Deixou então a mente vaguear, lembrando das beijocas e brincadeiras de ambos na árvore detrás do galinheiro. Da ultima vez que se viram, ela tinha 12 anos e ele 16. O que ele acharia dela agora? “Será que tô disarrumada, engordei muito, ele vai me achar bonita, e quando ele souber que eu... quando ele souber do meu marido?” - eram tantas questões em uma única fração de segundo, que chegavam a lhe dar náuseas.
Ela criou coragem, tomou fôlego, e seguiu em frente, atravessando o trânsito de pessoas - as criadas feito loucas em preparar as boas vindas – indo direto ao quarto dele. Ele estava deitado de barriga para cima, com as mãos cobrindo seus olhos dos primeiros raios de sol, como quem passa pela pior ressaca do mundo.
Ela adentrou no quarto, aproximou-se da cama, e com as costas da mão, acaricio-lhe o rosto. Mas ele permaneceu quieto, inerte, como se não tivesse notado sua presença. Então, uma voz vinda do corredor atrás de si dizendo “Rosalinda”, a fez despertar de seu estado de transe. Ela irrompeu de repente em corrida na direção da cozinha.
Ao meio-dia, com o sol a pique, tanto os agregados do casarão quanto os rurais, que haviam sido convidados ao banquete, postavam-se a mesa, colocada fora da casa em frente a entrada. O homenageado, com as mãos segurando a cabeça, como que tentando segurar o peso da ressaca, surgiu pela porta e contemplou à mesa todo tipo de comida: desde cereais, aipim e saladas à porco recheado e suculentas fatias de carne de carneiro. Sentou-se ao lado do pai, mas só pareceu acordar realmente ao ouvi-lo dizer:
- Apesar de não ser esperado, meu filho veio passar uns dias conosco. Só espero que não gaste tanto dinheiro aqui quanto gasta estudando no Sul.
Todos riram. Cevilho, que foi o único a não ver graça na piada do pai, olhou repentinamente para o lado, e pôde ver uma mulher ruiva de vestido florido servindo à mesa. Ela, que fingia não perceber estar sendo olhada, debruçou sobre a mesa afim de colocar as louças e talheres, e deu-lhe uma olhadela de canto de olho. Portovaldo, que encontrava-se no outro extremo da mesa, pela primeira vez cismou-se da esposa ao ver a troca de olhares.
Três dias depois, Portovaldo que não vinha muito ao casarão, teve de levar um recado do coronel a sua sogra. Chegou a porta, chamou mas não foi atendido. Adentrou então à casa rumo a cozinha. Foi quando escutou um zum-zum-zum vindo da dispensa. Reconheceu a voz da esposa e de alguém, um homem. E ao se aproximar mais, começou a distinguir também a voz do homem: era de Cevilho – o filho do coronel.
Pé após pé, foi chegando cada vez mais perto, sem ser notado, até poder discernir parte da conversa:
- ... que você ficaria tão linda.
- 'Gradecida Vilinho, quer dizer nhô Cervilho.
- Sem cerimônia. Você pode me chamar do que quiser.
Portovaldo chegou no canto da parede e pode espiar oque estava acontecendo. Sua esposa Rosalinda estava encostada na parede com as mãos para trás, e a cabeça abaixada dando-lhe um aspecto de timidez, enquanto o fulano, ficava a prensa-la na parede prestes a...a...
- Rosalinda – exclamou Portovaldo com sua voz áspera, interrompendo a regalia.
- Portovaldo? - respondeu Rosalinda, e de corada como estava, devido as cantadas do abusado, passou a empalidecer ao ver o esposo.
- Sua mãe. - limitou-se a dizer enquanto lançava-lhe um olhar que valia por 10 mil palavras. Em seguida lançou o mesmo olhar mortífero ao “coronelzinho”.
- Ah, então você é o famoso Portovaldo Justomar, o vingador dos sertões. Sabe, eu e sua esposa fomos criados juntos. Somos como irmãos – falou e soltou um sorrisinho de debilóide fingindo-se tranqüilo, mas no fundo, cagando-se de medo.
- Assim espero...finalizou Portovaldo e após outra olhada fulminante, saiu sem dizer mais nenhuma palavra.
Nas duas semanas seguintes, Rosalinda não deu mais as caras no casarão, alegando ter pego uma “gripe daquelas”. Um dia depois da volta do sinhozinho a São Paulo, Rosalinda voltou as atividades na casa grande ao lado da mãe, já curada da “repentina gripe”.
Tudo pareceu voltar ao normal, a não ser por uma única coisa: O relacionamento de Rosalinda Rascovioch com Portovaldo Justomar, seu marido. Depois de ter visto novamente o filho do coronel, mostrou-se ansiosa, distraída, e quando este voltou para o Sul, ela tornou-se cabisbaixa, triste e de quando em quando, era pega chorando escondidinha em algum canto. Passou a evitar o marido sempre que possível, hora por dor de cabeça, hora por indisposição, e era comum estar “naqueles dias” mais de duas vezes por mês. Foi quando que, ao final de dois meses, veio a confirmação do que ela alegou ser o motivo de seu estranho comportamento: Havia finalmente engravidado!

CONTINUA...

***CONTINUE A ACOMPANHAR A SAGA DE PORTOVALDO, E POSTE AQUI SEU COMENTARIOS.

E ATÉ A PRÓXIMA...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A HISTÓRIA DE PORTAVALDO JUSTOMAR E DO FILHO QUE ERA MAIS NÃO É E DO QUE NÃO ERA MAIS É.:

***OBS.:ANTES DE LER ESTE CONTO, QUEIRA LER O PRIMEIRO CAPITULO POSTADO LOGO ABAIXO

CAPITULO SEGUNDO:
O CASAMENTO DE PORTOVALDO JUSTOMAR COM ROSALINDA RASKOWICH


Passaram-se três dias e três noites em meio a febre delírios do homem. Neste período, ele ficou sob os cuidados de Bolonheska Raskovich, uma Polaca gorducha conhecida por todos pela alcunha de "Dona Bolonha".
Ela havia chegado ao Brasil junto com o ex-patrão 18 anos antes. Acabou sendo abandonada em Curiapeba, grávida de 5 meses e sem falar uma única palavra em português. Coronel Vitelo, ao ver a dita cuja - na época um verdadeiro filézinho – sentada na Praça das Boiadas, de bucho cheio e cheia de bagagens, resolveu acolhe-la em sua fazenda. Já faziam 3 anos que sua esposa morrerá no parto deixando-lhe um filho pequeno, e aquela polaca poderia muito bem fazer as vezes de mãe do rapazote. Desde então ela vivia na casa grande junto com sua filha, a graciosa Rosalinda Rascovich, uma rapariga magrinha mas de corpo bem torneado com seios pequenos mas altivos. Tinha uma pele alva com pouco de sarda no colo e ao redor do nariz arrebitado. Seus cabelos eram ruivos, e seus grandes olhos, eram de um verde-água reluzente; resumindo - um a verdadeiro pitélzinho.
Rosalinda ajudava sua mãe nos afazeres da casa, com seu jeito tímido, sempre correndo da vista dos outros, olhando a tudo e todos de soslaio. Até a chegada do negro. Ao ver aquele homem seminu deitado na cama, ela ficou hipnotizada! Seu corpo negro brilhando de suor e seus lábios grossos balbuciando coisas sem sentido, lhe faziam sentir uma quentura que nunca havia sentido antes.
E ela não perdia tempo: vivia a passar pano úmido pelo corpo dele com a desculpa de aliviar-lhe a febre, aproveitando para passear com os pequenos dedos por seus músculos. E toda vez que se achava sozinha com o enfermo, depois de examinar cuidadosamente ao redor para não ser pega, beijava-lhe os beiços molhados.
Em um desses beijos, que lhe acendiam como brasa em fogueira de festa junina, o cabra acordou de seus delírios. Vendo-a com os lábios encostados aos seus, agarrou a meninota na altura dos ombros e com um gesto rápido jogou-a sobre seu corpo. Essa arregalou de susto os olhos esmeraldas, e murmurou um "não" abafado pelos lábios dele, mas em uma fração de segundos, fechou nos olhinhos e se entregou as sua carícias.
De repente, os dois ouvem um grito acompanhado de palavras sem sentido ditas em uma ligua estrangeira mas que claramente distinguiam-se como xingos e maldições. Ele olhou para o lado, e pôde ver a mocinha pular de cima dele e passar velozmente pela porta como um cabritinha fugindo do carcará. Prostrada à porta, encontrava-se a figura volumosa de "Dona Bolonha" com as mãos no rosto e esbravejando com ele. E ele, ainda meio tonto pela febre ou pelos beijos da ruivinha, viu chegando a porta um mundaréu de rostos e vozes estranhas perguntando mil coisas ao mesmo tempo. Então uma voz sobressaindo-se a toda aquela babel disse:
- O que se assucede aqui.
Todos inclusive a Polaca calaram-se, e deram passagem ao Coronel. Logo atrás dele chegou o Capataz Muriçoca já de espingarda em punho. O coronel fez-lhe uma careta, mas ele não entendeu a recado, pois estava distraído em mirar para o homem que o havia humilhado noites atrás. Vendo que Muriçoca estava doido para puxar o gatilho, Coronel lhe deu um safanão e disse:
- Baixe a pistola seu besta, antes que ele tire ela de você de novo - Fale Bolonha, que diacho tá acontecendo aqui. Mas fale de um jeito que eu entenda.
- Ela... – disse Bolonha em meio a lágrimas e apontando o dedo para o negro – ela agarrar meu menina Rosalinda. Todos – e eram muitos - em uníssono disseram: - ooooh!!!
Ouve um instante de silencio, e logo a babel inicio-se novamente.
As mulheres benziam-se protestando contra a pouca-vergonha ocorrida no recinto, enquanto os homens entreolhavam-se com um sorriso no canto dos lábios, imaginando se teriam um dia a mesma sorte do forasteiro. O coronel fingia-se sério, mas o bigode arqueado para cima formando uma meia-lua, denunciava-lhe um sorriso sarcástico. Foi então que, ao ver as lágrimas escorrendo pela face de Bolonha, recobrou a seriedade. Sacou o revolver da cintura e disparou para o alto gritando:
- Vamô cambada, eu não pago ninguém pra ficar de conversê não!
Em um segundo o quarto estava praticamente vazio, restando apenas o coronel, Muriçoca com sua espingarda, Bolonha ainda choramingando, e o enfermo, tentando descobrir onde estava. O coronel dirigindo-se a Muriçóca e dona Bolonha disse:
- Por um acaso vocês tão surdos? Me deixem suzinho com o homem que tenho muito à prosear com ele.
- Mas coroné... – protestou Muriçoca enquanto Bolonha resmungava: - Meu menina... meu menina...
- Fora! – ressaltou o coronel Vitelo. Quando se encontrou finalmente a sós com o moribundo disse:
- Pelo jeito, vosmecê tá melhor. Bom, pelo menos para ficar de saliência... Agora diga cabra, quem é tu? O homem, sem se intimidar pela arma na mão do coronel ainda esfumaçando devido o disparo, disse:
- Portovaldo Justomar.
Justomar a essa hora – disse o coronel aproximando-se ainda mais da cama – tá comendo grama pela raiz! A não ser que vosmecê seja ele vindo do outro mundo mais escurinho. Mas eu nunca ouvi falar de espírito que tenha febre por três dias! E já que tu não é nenhuma assombração, desembucha, quem é tu?
Depois de exitar um pouco, o homem finalmente começou a contar-lhe sua história:
De como sua mãe, enganada por um homem que prometeu casar-se com ela, saiu da casa onde morava, e como acabou sendo abandonada por ele em plena capital pernambucana, grávida e sem lugar para ficar. A dificuldade que ela passou para arrumar moradia por ser negra e ter um filho um pequeno, e como ela tornou-se mulher da vida para não morrer de fome. O dia em que viu o homem que a ludibriou chegar no bordel onde trabalhava, e a surra que levou dos capangas dele ao identifica-lo. Os meses em que definhou até a morte. O juramento que ele fez aos 12 anos em frente ao tumulo de sua mãe de vingar-se do homem que desgraçou suas vidas, mesmo este sendo seu pai. E finalmente, o cumprimento dessa promessa nove anos depois: A emboscada a Portovaldo Justomar e seus capangas.
O resto da estória Coronel Vitelo de Arroba Vastos já conhecia. O único sobrevivente do ataque conseguiu chegar ao centro de Curiapeba, mas acabou morrendo duas horas depois. Porém, antes de morrer, foi acudido na farmácia Hipócrates por João Tolentino Clepaúva. Lá, confidenciou ter sido tocaiado juntamente com coronel Portovaldo Justomar e o outro capanga, por um único homem de mãos vazias.
A história fora noticiada logo na manhã seguinte pelo periódico “Os Sertões” numa reportagem de Aristarco Viera Melo que explicava que “o coronel Portovaldo Justomar, após 5 anos sem dar as caras em Curiapeba, vinha a cidade para uma consulta com seus advogados Polissálabo Saraiva e Walcírio Torneleiros Waluá, com respeito a suas propriedades que haviam sido invadidas por posseiros, e acabou sendo morto em tocaia na Estrada Rumo do Sertão Alto, junto com dois de seus capangas, por um negro desarmado.”
A noticia acrescentava ainda que “embora não viesse muito a Curiapeba, ficando a maior parte do tempo lá em Salvador, Portavaldo não deixará saudades nem aqui, nem lá e nem em lugar nenhum.”
A noticia tanto era verdadeira, que na noite em que o coronel Vitelo de Arroba Vastos encontrou o assassino à sua porta, ele estava vindo justamente de uma comemoração morte de Justovaldo, seu velho inimigo. Embora poucos soubessem exatamente o motivo de seu ódio ao finado, era certo que agora coronel Vitelo sentia-se em debito com o vigador pela morte de seu algoz. Mas havia algo que o ainda intrigava o coronel, a que ele tratou logo de perguntar:
- E por que diacho vosmecê disse que se chamava Portovaldo Justomar?
- Do mesmo jeito que aquele disgramento tirou tudo de mainha, eu quero tirar tudo dele, inté seu nome.
O coronel ria-se por dentro, pela estupidez do homem que, após matar seu inimigo, resolveu assumir o nome dele. E ria-se ainda mais de justamente o fato de esse ter se identificado pelo nome do defunto, o intrigado tanto, que o fez impedir Muriçoca de mata-lo.
- Bom – prosseguiu coronel Vitelo – agora que tudo está esclarecido, resta um causo a ser resolvido. Eu não sei direito oque aconteceu entre vosmecê e a menina Rosalinda...
- Eu não entendi direito – apressou-se em justificar – eu acordei e ela tava me bejano.
- Safadinha, hein? - pensou alto o coronel. - bem, o certo é que eu cunheço a rapariga desde que veio ao mundo. E ao que me consta, ela ainda é donzela. É justo que vosmecê se retrate com a mãe da moça.
- Mas – respondeu – eu não tenho morada. Desde que mainha me deixou suzinho no mundo, eu ando por esse mundão de Deus, aqui e acolá sem rumo certo. E agora que cumpri minha promessa, vou ter de prócura um lugar pra vivê. Inté lá, eu não tenho como cuidá da moça!
- Pra isso dá-se um jeito. Vosmecê casa-se com a menina Rosalinda, e vem trabaiá mais eu aqui em minhas terras.
- Num sei o que lhe dizê coroné. – respondeu – Eu juro por tudo que há de mais sagrado, que de hoje em diante, hei de serví o sinhô.
- Num se avexe home. – interrompeu coronel Vitelo, encabulado pela bajulação – Venha, temos um casamento pra preparar. E quanto a seu nome...
- É Portovaldo Justomar agora – respondeu.
- Que assim seja - finalizou o coroneu.
As semanas que antecederam ao casamento passaram voando. Tanto Rosalinda quanto Portovaldo mostravam-se empolgados. E na fazenda, não havia que trabalhasse mais que Justomar, sempre auxiliando os outros em seus afazeres, adquirindo assim a simpatia de todos. Bem quase todos.
Muriçoca, enciumou-se com a atenção dada a Justomar, só porque ia casar-se com a “filha da gorduchona”.
Já Bolonha, que chegou a fazenda achando que o coronel a assumiria como mulher, depois de ganhar tanto peso e perder a beleza, passou a projetar sua fantasia na filha, imaginando que ela se casaria com Cevilho saraiva de Arroba Vastos, o filho do coronel. Ao ver a filha preste casar-se com um forasteiro, negro e sem posses, quase morreu de desgosto.
O casamento foi realizado no dia 27 do mês corrente, em frente ao casarão. O padre Giracino Bembém de Arruda Real, em consideração ao coronel (e a bela contribuição do coronel a sua igreja), veio abençoar os noivos. Depois do casamento, os dois foram morar num casebre cedido a eles pelo coronel, que ficava próximo a um Corguinho que cruza toda a propriedade indo desaguar no rio das voltas.



CONTINUA...

***AGRADEÇO A TODOS QUE ESTÃO ACOMPANHANDO AS AVENTURAS DE PORTOVALDO E POSTANDO SEUS COMENTÁRIOS.
ESPERO QUE LEIAM ESTE NOVO CAPITULO E CONTINUEM COMENTANDO.
OBRIGADO E ATÉ A PROXIMA.


terça-feira, 22 de abril de 2008

Uma Morte no Teatro

Me considero um homem de bom gosto,cultural e intelectual.Leio e componho poesia;visito exposições dos mais variados artistas e escolas de arte,por toda a cidade;devoro os clássicos da literatura;medito ao som de música clássica e erudita;e vou ao teatro asssistir espetáculos semanalmente.Adoro teatro.Quando não há um espetáculo sendo encenado em minha cidade,vou à alguma cidade vizinha.Até mesmo já me dispus à escrever algumas peças ,que,infelizmente,não tenho contatos pessoais para torná-la um espetáculo encenado em algum teatro.
Como o leitor pode supor,sou um intelectual solitário.Pra mim,é até bom,pois não gosto de aglomerações,muito menos de estar acompanhado de alguém que falaria durante a apresentação,tirando minha concentração.Deste modo,quando ocorreu o fato que contarei a seguir,eu me encontrava sozinho.
A peça era uma ópera.
Gosto de me sentar longe do palco,de modo a poder admirar todo o espetáculo em meu campo de visão,sem precisar mexer muito o pescoço.então,naquela noite,lá estava eu,na última fila.
A casa possuia uma lotação satisfatória,o que me agradou.Eu já disse que odeio aglomerações,mas,como amante das artes,fico feliz quando vejo muitas pessoas prestigiando um espetáculo.E o teatro em que estávamos,eu nunca tinha estado entes.Me causou uma boa impressão.
O prédio também era muito bom.Novo.Limpo,poltronas macias.O teto parecia firme e seguro(ainda bem,pois seria uma tragédia se "o céu caísse sobre nossas cabeças").
A peça começou.todos em silêncio.Minha atenção,como sempre,no espétáculo.Nem as pesoas ao meu lado pareciam -me realmente estarem lá.
À um certo momento,desviei levemente minha atenção para algo que ahcei ver com o canto do olho.Um movimento nas sombras,no teto.Olhei para ver o que era.Não vi nada.Achei que poderia ser um morcego.Ou talvez fosse apenas minha imaginação,ou mesmo uma ilusão de ótica.Ainda assim,passei meu olhar por todo o teto,pelas armações de sustetação do teto e suporte das luzes.Não encontrei nada(afinal,o que teria lá pra ser encontrado?),e voltei minha atenção para a peça.Fiquei um pouco frustrado por ter desviado minha atenção dela,mesmo que por poucos segundos.Felizmente,eu já conhecia a peça,pois já havia visto outras encenações dela.
Mas fiquei curioso em saber o que eu tinha visto."Quando a peça acabar,e as luzes se acenderem,vou olhar novamente para o teto,em busca do que quer que fiosse que tirou minha concentração e atiçou minha curiosidade",pensei.
Um certo tempo depois,novamente algo no teto atraiu minha atenção.Pareceu-me que algo havia refletido um pouco de luz.Como minha curiosidade já estava maior que nminha atenção pela peça,fiquei olhando para o teto.Novamente,vi uma luz refletida levemente em algo pequeno.Muito pequeno.E se movia.E pareceu-me que havia um vulto grande perto desse objeto.O vulto estava nas armações.Pelo tamanho,acho que devia ser uma pessoa.
E o objeto pequeno que refletia a luz se mexia.De repente,já não via mais a peça.Era como se eu não estivesse mais lá,só o som da peça chegava aos meus ouvidos,mas eu não dava atenção.O objeto se movia,apontando para todo o teatro,como se estivesse procurando algo.Ou alguém.
O objeto era triangular.Pude notar quando ele apontou em minha dirção.Meu coração palpitava,minha respiração ficou mais rápida.O objeto parou em minha direção.Podia sentir que o objeto triangular apontava para mim.senti meu suor escorrer por minhas costas.Fiquei paralisado;Não conhecia as pessoas que estavam ao meu lado.Do meu lado direito,uma moça que estava abraçada À um homem,provavelmente seu namorado.Do meu lado esquerdo,um senhor de idade avançada,óculos na ponta do nariz,e o queixo apoiado no punho.A atanção totalmente voltada à peça.Eu não conhecia ninguem.Não sabia o que fazer.Não podia causar um escândalo.Fiz a única coisa que podia.Desviei meu olhar,de volta para a peça.
Mas não conseguia me concentrar nela.Só pensava no brilho triangular,que notava pelo canto do olho.O brilho triangular que apontava pra mim.O brilho triangular que desviou de mim.
Um pouca aliviado,olhei para as armações,e vi o brilho se desviando para o outro lado do teatro.Ao redor do objeto triangular,havia um brilho mais leve,em semi-círculo.Esse outro brilho foi mudando de forma,ficando mais ovalado,formando uma elipse.Então,o objeto triangular foi atirado com velocidade na direção do público.Ouvi um gemido abafado.
A peça continuou por poucos segundos.Enquanto isso,segui o vulto com o olhar até a parte das armações que ficava acima do palco.Então,o vulto sumiu por algum lugar.
De repente,um grito de mulher meio que me despertou do meu transe.Todos no teatro olharam na direção dela.Os atores,no palco,pararam de encenar,olhando pra ela.A mulher estava de pé,gritando histerica.As luzes se acenderam.Um homem havia sido flechado e morto.Nas circunstâncias,não seria apropriado dizer,mas me senti aliviado.Aliviado por não ter sido eu.
Quando a polícia chegou,as pessoas que não eram próximas do morto foram liberadas.Eu fui embora,sem sequer dar depoimento do que vi.
Eu não gosto de jornais sensacionalistas e sanguinários,por isso,não sei quem era o homem assassinado,nem o motivo do crime.Não me interessa saber.
E eu nunca mais voltei àquele teatro.

domingo, 20 de abril de 2008

A HISTÓRIA DE PORTAVALDO JUSTOMAR E DO FILHO QUE ERA MAIS NÃO É E DO QUE NÃO ERA MAIS É.

(história baseada na obra de Aristides Theodoro sobre a fictícia cidade de Curiapeba)

CAPITULO PRIMEIRO:DA CHEGADO À FAZENDA BARAUNA PROXIMA AO RIO DAS VOLTAS


          Essa é mais uma daquelas histórias que tornaram-se lendas no sertão baiano.A unica coisa que nos faz acreditar que ela seja verdadeira, é o fato de ter acontecido em Curiapeba: a cidade onde o improvavel e o impossivel fazem parte do cotidiano.
          Tudo aconteceu muitos anos atrás quando um Coronel chamado Vitelo de Arroba Vastos, chegava em sua casa, juntamente com seu capataz Barbaré Muriçoca, após uma noitada regada à catiola e outros tipos de cachaça. O coronel e Muriçoca havia bebido tanto, que só conseguiram chegar em casa graças aos cavalos que já conheciam o caminho entre o bar no centro e a sua fazenda Baraúna, que ficava proxima ao Rio das Voltas .
          Os cavalos pararam em frente as porteiras e, enquanto o coronel parecia dormir montado na cela do cavalo apoiado em sua enorme pança, como um pombo velho em um poleiro, Murissoca aos tropeços, desceu da montaria e foi abrir as porteiras. Colocou a mão na tranca, mais se apoiando do que tentando abri-la, quando de repente viu um vulto surgir do mato alto ao lado. Na mesma hora, levou a mão na cintura afim de apanhar sua arma, mas encontrou o coldre vazio. Quando olhou para frente, arregolou os olhos vermelhos de embreaguês ao perceber que a figura sobria estava empunhando sua própria arma!
          - Não podi sê, como ele foi tão ligeiro?!! - pensou Murissoca, e auxiliado pelas primeiras luzes do sol que estava raiando, passou a avaliar a ameaça que seu oponente representava:
          Um negro alto e atlético, com um rosto severo e olhar esguio. Ele estava de pés descalços e sem camisa, coberto apenas por farrapos que um dia haviam sido uma calça; E o pouco que restava do velho tecido branco, estava salpicado de manchas de sangue seco.
          Coronel Vitelo, que até então parecia alheio a tudo em meio a sua bebedeira, sem nem mesmo abrir os olhos – que já eram fechados por natureza - murmurou através do protuberante bigodão:
          - Fale logo cabra!! Se é dinheiro que vosmecê quer, fique sabendo...
          - Não sinhô, num carece de se preocupá não. Eu num quero lhe fazê mal. Só apanhei o revolví por que num quero que ninguém se machuque. - sensurou o negro.
          - Se ocê num quer machucar ninguém, então me diz o que quer. - questionou o Coronel. -           - Eu venho lhe pedí guarida. Um bocado de pão e um gole d'agua pra modi eu tomá meu rumo. - respondeu. Coronel perguntou então: - por acaso vosmecê tem nome?
          - Meu nome é ... é ...o negro pausou, como que fazendo força para lembrar o próprio nome e finalmente disse gaguejando: - Por-portovaldo, Portovaldo Justomar... O coronel deu um salto na cela, como se tivesse visto uma assombração.
          - Portovaldo Justomar?! Num podi sê!!
          O negro abriu a bocarra como que querendo continuar a falar, mas mostrava-se sem forças até mesmo para manter os olhos abertos. Com a face coberta de suor e as mãos tremulas, começou a cabalear, de um lado para o outro, até enfim cair por terra feito árvore podre decepada pelo machado. Murissoca, que estava com as mão estendidas para o céu diante da revolver, como quem implora a Deus por sua vida, demorou uma eternidade para notar a arma caida à seus pés. Daí, jogou-se no chão fingindo agilidade, apanhou o trabuco e disse:
          - Só um instante Coroné, que eu estóro o bucho desse disinfeliz.
          - Vá pra baixa da égua seu peste – retrucou o Coroneu - Quem merece chumbo é tu. Cabra que é macho de verdade, deixa outro bulinar inté sua mulé, mas nunca deixa outro pegar em sua arma. Venha, coloque o homem em sua corcova de jegue e carregue o homem pra dentro.

CONTINUA...




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