quinta-feira, 24 de abril de 2008

A HISTÓRIA DE PORTAVALDO JUSTOMAR E DO FILHO QUE ERA MAIS NÃO É E DO QUE NÃO ERA MAIS É.:

***OBS.:ANTES DE LER ESTE CONTO, QUEIRA LER O PRIMEIRO CAPITULO POSTADO LOGO ABAIXO

CAPITULO SEGUNDO:
O CASAMENTO DE PORTOVALDO JUSTOMAR COM ROSALINDA RASKOWICH


Passaram-se três dias e três noites em meio a febre delírios do homem. Neste período, ele ficou sob os cuidados de Bolonheska Raskovich, uma Polaca gorducha conhecida por todos pela alcunha de "Dona Bolonha".
Ela havia chegado ao Brasil junto com o ex-patrão 18 anos antes. Acabou sendo abandonada em Curiapeba, grávida de 5 meses e sem falar uma única palavra em português. Coronel Vitelo, ao ver a dita cuja - na época um verdadeiro filézinho – sentada na Praça das Boiadas, de bucho cheio e cheia de bagagens, resolveu acolhe-la em sua fazenda. Já faziam 3 anos que sua esposa morrerá no parto deixando-lhe um filho pequeno, e aquela polaca poderia muito bem fazer as vezes de mãe do rapazote. Desde então ela vivia na casa grande junto com sua filha, a graciosa Rosalinda Rascovich, uma rapariga magrinha mas de corpo bem torneado com seios pequenos mas altivos. Tinha uma pele alva com pouco de sarda no colo e ao redor do nariz arrebitado. Seus cabelos eram ruivos, e seus grandes olhos, eram de um verde-água reluzente; resumindo - um a verdadeiro pitélzinho.
Rosalinda ajudava sua mãe nos afazeres da casa, com seu jeito tímido, sempre correndo da vista dos outros, olhando a tudo e todos de soslaio. Até a chegada do negro. Ao ver aquele homem seminu deitado na cama, ela ficou hipnotizada! Seu corpo negro brilhando de suor e seus lábios grossos balbuciando coisas sem sentido, lhe faziam sentir uma quentura que nunca havia sentido antes.
E ela não perdia tempo: vivia a passar pano úmido pelo corpo dele com a desculpa de aliviar-lhe a febre, aproveitando para passear com os pequenos dedos por seus músculos. E toda vez que se achava sozinha com o enfermo, depois de examinar cuidadosamente ao redor para não ser pega, beijava-lhe os beiços molhados.
Em um desses beijos, que lhe acendiam como brasa em fogueira de festa junina, o cabra acordou de seus delírios. Vendo-a com os lábios encostados aos seus, agarrou a meninota na altura dos ombros e com um gesto rápido jogou-a sobre seu corpo. Essa arregalou de susto os olhos esmeraldas, e murmurou um "não" abafado pelos lábios dele, mas em uma fração de segundos, fechou nos olhinhos e se entregou as sua carícias.
De repente, os dois ouvem um grito acompanhado de palavras sem sentido ditas em uma ligua estrangeira mas que claramente distinguiam-se como xingos e maldições. Ele olhou para o lado, e pôde ver a mocinha pular de cima dele e passar velozmente pela porta como um cabritinha fugindo do carcará. Prostrada à porta, encontrava-se a figura volumosa de "Dona Bolonha" com as mãos no rosto e esbravejando com ele. E ele, ainda meio tonto pela febre ou pelos beijos da ruivinha, viu chegando a porta um mundaréu de rostos e vozes estranhas perguntando mil coisas ao mesmo tempo. Então uma voz sobressaindo-se a toda aquela babel disse:
- O que se assucede aqui.
Todos inclusive a Polaca calaram-se, e deram passagem ao Coronel. Logo atrás dele chegou o Capataz Muriçoca já de espingarda em punho. O coronel fez-lhe uma careta, mas ele não entendeu a recado, pois estava distraído em mirar para o homem que o havia humilhado noites atrás. Vendo que Muriçoca estava doido para puxar o gatilho, Coronel lhe deu um safanão e disse:
- Baixe a pistola seu besta, antes que ele tire ela de você de novo - Fale Bolonha, que diacho tá acontecendo aqui. Mas fale de um jeito que eu entenda.
- Ela... – disse Bolonha em meio a lágrimas e apontando o dedo para o negro – ela agarrar meu menina Rosalinda. Todos – e eram muitos - em uníssono disseram: - ooooh!!!
Ouve um instante de silencio, e logo a babel inicio-se novamente.
As mulheres benziam-se protestando contra a pouca-vergonha ocorrida no recinto, enquanto os homens entreolhavam-se com um sorriso no canto dos lábios, imaginando se teriam um dia a mesma sorte do forasteiro. O coronel fingia-se sério, mas o bigode arqueado para cima formando uma meia-lua, denunciava-lhe um sorriso sarcástico. Foi então que, ao ver as lágrimas escorrendo pela face de Bolonha, recobrou a seriedade. Sacou o revolver da cintura e disparou para o alto gritando:
- Vamô cambada, eu não pago ninguém pra ficar de conversê não!
Em um segundo o quarto estava praticamente vazio, restando apenas o coronel, Muriçoca com sua espingarda, Bolonha ainda choramingando, e o enfermo, tentando descobrir onde estava. O coronel dirigindo-se a Muriçóca e dona Bolonha disse:
- Por um acaso vocês tão surdos? Me deixem suzinho com o homem que tenho muito à prosear com ele.
- Mas coroné... – protestou Muriçoca enquanto Bolonha resmungava: - Meu menina... meu menina...
- Fora! – ressaltou o coronel Vitelo. Quando se encontrou finalmente a sós com o moribundo disse:
- Pelo jeito, vosmecê tá melhor. Bom, pelo menos para ficar de saliência... Agora diga cabra, quem é tu? O homem, sem se intimidar pela arma na mão do coronel ainda esfumaçando devido o disparo, disse:
- Portovaldo Justomar.
Justomar a essa hora – disse o coronel aproximando-se ainda mais da cama – tá comendo grama pela raiz! A não ser que vosmecê seja ele vindo do outro mundo mais escurinho. Mas eu nunca ouvi falar de espírito que tenha febre por três dias! E já que tu não é nenhuma assombração, desembucha, quem é tu?
Depois de exitar um pouco, o homem finalmente começou a contar-lhe sua história:
De como sua mãe, enganada por um homem que prometeu casar-se com ela, saiu da casa onde morava, e como acabou sendo abandonada por ele em plena capital pernambucana, grávida e sem lugar para ficar. A dificuldade que ela passou para arrumar moradia por ser negra e ter um filho um pequeno, e como ela tornou-se mulher da vida para não morrer de fome. O dia em que viu o homem que a ludibriou chegar no bordel onde trabalhava, e a surra que levou dos capangas dele ao identifica-lo. Os meses em que definhou até a morte. O juramento que ele fez aos 12 anos em frente ao tumulo de sua mãe de vingar-se do homem que desgraçou suas vidas, mesmo este sendo seu pai. E finalmente, o cumprimento dessa promessa nove anos depois: A emboscada a Portovaldo Justomar e seus capangas.
O resto da estória Coronel Vitelo de Arroba Vastos já conhecia. O único sobrevivente do ataque conseguiu chegar ao centro de Curiapeba, mas acabou morrendo duas horas depois. Porém, antes de morrer, foi acudido na farmácia Hipócrates por João Tolentino Clepaúva. Lá, confidenciou ter sido tocaiado juntamente com coronel Portovaldo Justomar e o outro capanga, por um único homem de mãos vazias.
A história fora noticiada logo na manhã seguinte pelo periódico “Os Sertões” numa reportagem de Aristarco Viera Melo que explicava que “o coronel Portovaldo Justomar, após 5 anos sem dar as caras em Curiapeba, vinha a cidade para uma consulta com seus advogados Polissálabo Saraiva e Walcírio Torneleiros Waluá, com respeito a suas propriedades que haviam sido invadidas por posseiros, e acabou sendo morto em tocaia na Estrada Rumo do Sertão Alto, junto com dois de seus capangas, por um negro desarmado.”
A noticia acrescentava ainda que “embora não viesse muito a Curiapeba, ficando a maior parte do tempo lá em Salvador, Portavaldo não deixará saudades nem aqui, nem lá e nem em lugar nenhum.”
A noticia tanto era verdadeira, que na noite em que o coronel Vitelo de Arroba Vastos encontrou o assassino à sua porta, ele estava vindo justamente de uma comemoração morte de Justovaldo, seu velho inimigo. Embora poucos soubessem exatamente o motivo de seu ódio ao finado, era certo que agora coronel Vitelo sentia-se em debito com o vigador pela morte de seu algoz. Mas havia algo que o ainda intrigava o coronel, a que ele tratou logo de perguntar:
- E por que diacho vosmecê disse que se chamava Portovaldo Justomar?
- Do mesmo jeito que aquele disgramento tirou tudo de mainha, eu quero tirar tudo dele, inté seu nome.
O coronel ria-se por dentro, pela estupidez do homem que, após matar seu inimigo, resolveu assumir o nome dele. E ria-se ainda mais de justamente o fato de esse ter se identificado pelo nome do defunto, o intrigado tanto, que o fez impedir Muriçoca de mata-lo.
- Bom – prosseguiu coronel Vitelo – agora que tudo está esclarecido, resta um causo a ser resolvido. Eu não sei direito oque aconteceu entre vosmecê e a menina Rosalinda...
- Eu não entendi direito – apressou-se em justificar – eu acordei e ela tava me bejano.
- Safadinha, hein? - pensou alto o coronel. - bem, o certo é que eu cunheço a rapariga desde que veio ao mundo. E ao que me consta, ela ainda é donzela. É justo que vosmecê se retrate com a mãe da moça.
- Mas – respondeu – eu não tenho morada. Desde que mainha me deixou suzinho no mundo, eu ando por esse mundão de Deus, aqui e acolá sem rumo certo. E agora que cumpri minha promessa, vou ter de prócura um lugar pra vivê. Inté lá, eu não tenho como cuidá da moça!
- Pra isso dá-se um jeito. Vosmecê casa-se com a menina Rosalinda, e vem trabaiá mais eu aqui em minhas terras.
- Num sei o que lhe dizê coroné. – respondeu – Eu juro por tudo que há de mais sagrado, que de hoje em diante, hei de serví o sinhô.
- Num se avexe home. – interrompeu coronel Vitelo, encabulado pela bajulação – Venha, temos um casamento pra preparar. E quanto a seu nome...
- É Portovaldo Justomar agora – respondeu.
- Que assim seja - finalizou o coroneu.
As semanas que antecederam ao casamento passaram voando. Tanto Rosalinda quanto Portovaldo mostravam-se empolgados. E na fazenda, não havia que trabalhasse mais que Justomar, sempre auxiliando os outros em seus afazeres, adquirindo assim a simpatia de todos. Bem quase todos.
Muriçoca, enciumou-se com a atenção dada a Justomar, só porque ia casar-se com a “filha da gorduchona”.
Já Bolonha, que chegou a fazenda achando que o coronel a assumiria como mulher, depois de ganhar tanto peso e perder a beleza, passou a projetar sua fantasia na filha, imaginando que ela se casaria com Cevilho saraiva de Arroba Vastos, o filho do coronel. Ao ver a filha preste casar-se com um forasteiro, negro e sem posses, quase morreu de desgosto.
O casamento foi realizado no dia 27 do mês corrente, em frente ao casarão. O padre Giracino Bembém de Arruda Real, em consideração ao coronel (e a bela contribuição do coronel a sua igreja), veio abençoar os noivos. Depois do casamento, os dois foram morar num casebre cedido a eles pelo coronel, que ficava próximo a um Corguinho que cruza toda a propriedade indo desaguar no rio das voltas.



CONTINUA...

***AGRADEÇO A TODOS QUE ESTÃO ACOMPANHANDO AS AVENTURAS DE PORTOVALDO E POSTANDO SEUS COMENTÁRIOS.
ESPERO QUE LEIAM ESTE NOVO CAPITULO E CONTINUEM COMENTANDO.
OBRIGADO E ATÉ A PROXIMA.


2 comentários:

Jesualdo M Nascimento disse...

Tenho que tirar o chapéu ( calma aí, o boné )ficou magnífico! estou cada vez mais surpreso, está indo muito bem, já pensou Marcos Poe!
Até!espero as próximas!

Dri disse...

Marcos poetaaa!!
Que talento hein? Aguardo ansiosa pelo terceiro capítulo...
beijos...

Sempre poesia